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O clamor dos pobres

 

Os protestos ocorridos nos últimos dias em cidades brasileiras de grande e média dimensão, a pretexto de aumentos nos transportes públicos, contra a construção de estádios e a corrupção na atividade política, em paralelo com  protestos do “movimento dos sem-terra”, organização que reúne milhares de brasileiros espoliados, constituem um sinal de alarme aos responsáveis das nações e da comunidade internacional.        

O que está subjacente a estes movimentos democráticos que, livre e espontaneamente se organizam, é a constatação de que direitos fundamentais como o acesso à educação e à saúde afetam o desenvolvimento dos cidadãos mais carenciados, em benefício de investimentos questionáveis em estádios de futebol de duvidosa rentabilidade.

O exemplo do Brasil, país que nos últimos anos conheceu um crescimento assinalável tornando-se economia emergente, tem, por isso, um significado importante.

Quanto mais os cidadãos desenvolvem as suas capacidades, mais atuantes e críticos se tornam perante os poderes públicos e as instituições sociais. Talvez por isso é que os ditadores coartaram direitos, liberdades e garantias, para mais facilmente se prolongarem no poder, imporem tiranias e viverem seus desmandos. Todos eles, no entanto, têm um fim.

Portugal, Espanha, URSS e alguns países árabes, são exemplo de que as insurreições populares com ou sem derramamento de sangue, restituem, normalmente a democracia aos povos oprimidos.

A luta pela consecução da dignidade dos povos não tem tréguas e encontra cada vez mais seguidores em nações onde os contrastes sociais são mais gritantes.

Esta semana, soube-se que quase 30% das crianças portuguesas são afetadas pela fome e por carências de toda a espécie que se refletem no rendimento escolar. Vivem, naturalmente, em famílias desestruturadas pelo desemprego, de onde resulta a impossibilidade de adquirir alimentos e de satisfazer compromissos com a habitação.

Nunca, no Portugal democrático, se vivera situação assim.

Mesmo entre nós, há vizinhos a passar fome – digo FOME –, sem apoios do banco alimentar, fechados em casa, envergonhados com seu penar, chorando lágrimas de dor por não terem de comer nem para dar aos filhos.

Gente a quem os apoios ao desemprego, à velhice, às crianças foram retirados ou reduzidos, gente doente que deixou de tomar medicamentos por falta de dinheiro, gente a quem a burocracia atrasa ou nega, liminarmente, o rendimento social de inserção(?)(RSI).

Há jovens, sem perspetivas de vida, que, no seu imaginário, só pensam em EMIGRAR, em sair, em fugir para longe, onde haja esperança e um futuro melhor.

Há reformados preocupados com a eventualidade de mais cortes nas suas pensões, pois os seus pés-de-meia socorrem as carências de filhos e netos.

As mesmas razões que levam os brasileiros a saírem à rua existem aqui, não vale a pena ignorá-lo. Só que temos uma índole diferente, mais acomodada. Cozemos, no íntimo, as nossas mágoas e escondemo-las dos demais.

Até quando? Será que um dia a situação vai explodir? Espero que sim e que nos encontremos, pacificamente, para dizer: BASTA!  

Não chega propagandear o pós-troika como um final feliz.

O quotidiano de milhares de açorianos e de portugueses vive-se aqui, e é neste torrão que queremos construir o nosso futuro. Como pessoas, com  dignidade, direitos e deveres.

As pessoas PRIMEIRO que as empresas, porque a economia deve estar ao serviço do HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS, como afirmou Paulo VI.

Este é um desafio constante aos poderes públicos. Saibam eles  corresponder a este mandato popular.

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